Nenhum outro escritor soube capturar tão bem o medo que a próstata impinge aos homens de meia-idade quanto o americano Philip Roth. As agruras vividas pelo personagem Nathan Zuckerman, figura central dos romances A marca humana e Fantasma sai de cena, são também as de muitos homens que recebem o diagnóstico de câncer e, em decorrência do tratamento, passam a sofrer de incontinência urinária e impotência sexual. No Brasil, cerca de 60 mil homens (a maioria acima dos 65 anos) descobrirão que têm um tumor maligno de próstata neste ano. Felizmente, muitos poderão escapar dos constrangimentos descritos por Roth. Cirurgias menos mutilantes e novas drogas podem tornar a vida real melhor que na ficção. Desde, é claro, que a doença seja descoberta a tempo e tratada adequadamente.
Alguns desses tumores podem crescer de forma rápida, se espalhar para outros órgãos e matar em pouco tempo. A grande maioria, porém, cresce lentamente. Leva cerca de 15 anos para um tumor atingir 1 centímetro cúbico. Quando começar a tratar – e com quais recursos – é uma discussão infindável nesse campo da medicina.
O debate deverá ganhar força com a chegada de novas drogas ao mercado. Elas são resultado do acúmulo de conhecimento sobre a biologia do câncer de próstata – particularmente sobre o papel do hormônio testosterona na promoção dele. Segundo os especialistas, a próxima década deverá fazer pelo câncer de próstata o que a década passada fez pelo câncer de mama. Aumentará a oferta de drogas altamente eficazes e caras. Um dos novos medicamentos é o Jevtana (cabazitaxel), já disponível no Brasil. É uma opção para uma parcela dos casos quando já existe metástase. O outro é o Zytiga (abiraterone), aprovado no ano passado nos Estados Unidos, mas ainda não disponível no Brasil. O remédio interfere numa enzima envolvida na produção de testosterona. O medicamento é considerado uma alternativa em casos de câncer de próstata metastático que deixam de responder ao tratamento convencional. Apesar do entusiasmo em torno da nova droga, os estudos demonstram que ela prolonga a vida em apenas quatro meses. Uma vacina, criada pela empresa Dendreon, é outra inovação. Ela não evita a doença, mas torna as células do tumor vulneráveis ao ataque do sistema imune. Precisa ser produzida com células de cada paciente. Tanta personalização custa caro: cerca de US$ 100 mil.
FONTE: REVISTA ÉPOCA
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