Faltam evidências científicas que justifiquem a prática da medicina antienvelhecimento, ou anti-aging, que se tornou popular no Brasil nos últimos anos, com a adesão de centenas de profissionais. Essa é a conclusão de uma extensa revisão de estudos científicos sobre o assunto, realizada por um grupo de especialistas da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).
A equipe, que consultou 164 referências bibliográficas, das quais 79 foram analisadas, apresenta hoje os resultados da investigação no XVIII Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia, no Rio de Janeiro. A partir da revisão, membros da SBGG produziram um documento com 12 recomendações. A principal crítica diz respeito à reposição hormonal e à suplementação com antioxidantes, vitaminas e sais minerais, medidas propostas pela técnica. Essas substâncias entrariam em declínio no corpo a partir dos 30 anos.
A discussão sobre a medicina anti-aging também está na mira do Conselho Federal de Medicina (CFM). Coordenador da Câmara Técnica de Geriatria do CFM, o médico Gerson Zafalon, que participará do Congresso, diz que a Câmara já preparou um novo parecer sobre o tema – se aprovado, o documento poderá dar origem a uma resolução para proibir a prática da medicina anti-aging. Para Zafalon, ela causa mais danos do que benefícios. “Há um aumento, inclusive, do risco de câncer”, diz. O médico quer levar à próxima reunião mensal do CFM os resultados discutidos no congresso.
Assim como o CFM, a Associação Médica Brasileira (AMB) também não reconhece a medicina antienvelhecimento como especialidade. Presidente da SBGG, a médica Silvia Regina Mendes Pereira diz que é natural que o organismo dos mais velhos apresente declínio de algumas substâncias. “Há perdas, mas não é acrescentando vitaminas e hormônios que a pessoa deixará de envelhecer”. Segundo ela, as reposições podem expor o paciente a um risco maior de se tornar diabético, ter intoxicações e sofrer uma sobrecarga da função renal – pois todas essas substâncias são processadas no rim antes da eliminação pela urina.
Outros estudos mostram a relação do consumo de vitaminas, antioxidantes e hormônios com um risco maior de câncer. Um exemplo é o hormônio do crescimento (GH), que seria usado para aumentar a massa muscular e diminuir a gordura corporal. Segundo o médico Rubens de Fraga, diretor da SBGG, o idoso submetido a essa substância também tem maior risco para diabete, hipertensão e crescimento das extremidades. “E não há nada que comprove que repor o hormônio de crescimento vai reverter o envelhecimento”, diz. “Eles acham que o envelhecimento é uma doença que tem de ser revertida, mas o processo de envelhecimento é natural.”
Já o médico Irineu Pantoja, que aplica a medicina anti-aging, afirma que a posição da SBGG reflete “falta de conhecimento e de informação”, e que a técnica previne doenças ligadas ao envelhecimento, como câncer, osteoporose, artrose, Parkinson, glaucoma e obesidade. “Após os 25, começa a ocorrer uma deficiência de hormônios. Repondo essas substâncias, podemos retardar o relógio biológico e prevenir doenças”, diz.
FONTE: ESTADÃO
Nenhum comentário:
Postar um comentário