sábado, 4 de agosto de 2012

NORDESTE AMERICANO, BRASIL E SUL DA ÁSIA SÃO REGIÕES DE ATENÇÃO PARA ZOONOSES EMERGENTES


Pesquisadores se preocupam com o avanço das zoonoses, que fazem mais de 2 milhões de vítimas por ano
As zoonoses, doenças infecciosas transmissíveis ao homem pelos animais, são onipresentes em nosso mundo moderno. E mesmo quando elas quase deixaram de fazer mal, continuaram a mobilizar pesquisas.
Conduzido no Instituto Friedriech-Loeffler – o laboratório alemão de referência em matéria de saúde animal – e publicado na edição de agosto do “American Journal of Pathology”, um estudo revela que a encefalopatia espongiforme bovina (EEB), ou doença da vaca louca, se propaga pelo sistema nervoso autônomo (SNA) bem antes de ser detectável no sistema nervoso central (SNC).
“Nossos resultados indicam claramente que as duas vias, do SNA e do SNC, estão implicadas na patogênese da EEB, e não necessariamente ao mesmo tempo”, comenta o professor Martin H. Groschup, que conduziu esses trabalhos.
A EEB é uma doença infecciosa causada por um agente patógeno chamado “príon” e pode ser transmitida ao homem por via alimentar. A doença de Creutzfeldt-Jakob que provoca essa transmissão fez mais de 200 mortos, sendo 25 na França. Após três anos de trégua, dois novos casos dessa forma humana da EEB acabam de ser assinalados na França – um em junho, outro no dia 9 de julho - , elevando a 27 o número total de casos registrados desde 1996.
No Comitê Nacional de Referência da Doença de Creutzfeldt-Jacob, no entanto, afirmam que não há razão para preocupação: esses casos são “aparições tardias” que resultam de uma forte exposição à doença durante os anos 1990.
Como agora a epidemia da EEB está controlada, a descoberta do instituto alemão provavelmente não terá grandes consequências sobre as estratégias adotadas contra essa doença. No entanto, quase um quarto de século depois do surgimento da doença da vaca louca, ela lembra o quanto a emergência das infecções animais continua sendo mal compreendida. Uma lacuna ainda mais preocupante pelo fato de que as zoonoses estão em plena expansão.
Segundo um estudo internacional publicado na quinta-feira (5) pelo International Livestock Research Institute (ILRI), pelo Instituto de Zoologia do Reino Unido e pela Escola de Saúde Pública de Hanói (Vietnã), 13 dessas zoonoses – entre as quais a brucelose, a febre Q, a leishmaniose, a leptospirose e a hepatite E – afetam a cada ano 2,4 bilhões de pessoas no mundo, provocando a morte de 2,2 milhões delas.
A maior parte dessas pessoas vive em países de baixa ou média renda. “De cistos causados pela tênia até a gripe aviária, as zoonoses constituem uma grave ameaça para a saúde humana e animal”, explica Delia Grace, epidemiologista-veterinária no ILRI e principal signatária desses trabalhos. “Visar os países mais duramente atingidos por esse fenômeno é essencial para preservar a saúde mundial, bem como para reduzir a miséria dos criadores de animais mais pobres”.
Para aumentar o impacto de seu estudo sobre as futuras estratégias sanitárias, os pesquisadores estabeleceram uma triste lista: a dos 20 lugares do planeta onde essas zoonoses estão mais presentes. Os quatro países que a encabeçam são a Índia, a Etiópia, a Tanzânia e a Nigéria. Além disso, a Europa ocidental – sobretudo o Reino Unido - , o nordeste americano, o Brasil e certas zonas do sul da Ásia constituem regiões de destaque para as zoonoses emergentes.
O estudo também confirma: 60% das doenças infecciosas humanas e 75% das afecções emergentes registradas no mundo são zoonoses. Algumas são causadas por animais de estimação, outras pela fauna selvagem. Mas, em sua maior parte, elas provêm dos 24 bilhões de aves, porcos, bois, cabras, ovelhas, carneiros e camelos de nosso gado mundial.
Reduzir a inflação dos animais de criação? Impensável. “Hoje, 2,5 bilhões de pessoas sobrevivem no mundo com menos de US$ 2 (cerca de R$ 4) por dia. Consequentemente, muitas delas dependem do gado para a alimentação, para a renda, a tração, o adubo e outros serviços”, lembram os pesquisadores.
Ademais, a demanda mundial por produtos de carne e laticínios está em alta, oferecendo aos criadores pobres uma oportunidade que eles não podem ignorar.
“O aumento da demanda continuará nas próximas décadas, puxado pelo crescimento demográfico e das rendas, pela urbanização e pela mudança nos hábitos alimentares nas economias emergentes”, afirma Steve Staal, diretor-geral adjunto da pesquisa no ILRI. E observa este cruel paradoxo: ao mesmo tempo que “um maior acesso aos mercados mundiais e regionais da carne poderia ajudar milhões de criadores a saírem da pobreza extrema”, as zoonoses constituem atualmente o maior obstáculo a esse desenvolvimento.
Como exemplo, a brucelose afeta em torno de uma em cada oito criações nos países pobres, e reduz a produção de leite e de carne em cerca de 8%.
FONTE: UOL

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